EU ACUSO: Companhias, Lula, ANAC, os controladores e a Imprensa!
Brada a imprensa nacional:
"Mortos já são 160".
"Maior acidente da história".
Entre dois até dez dias, quando se confirmar que o avião bateu porque a pista carecia de "grooving" --ranhuras feitas na superfície do pavimento que facilitam o escoamento de água-- o que dirá nossa imprensa? Oras, que o governo é irresponsável, que os culpados devem ser processados e eletrocutados, que isso não pode ficar assim, que esse país é uma vergonha.
Mas...
Qual será o repórter a dizer J'accuse para a imprensa? Qual será o representante da mídia que vai ao ar justificar a pressão PELO RÁPIDO FIM DO "caos aéreo". É certo que a reforma da pista era mais importante que a do terminal, e por isso deveria ter sido feita antes, mas a liberação prematura da pista é muito mais culpa da imprensa, e da incapacidade dos nossos governantes de ir contra ela, do que qualquer outra coisa.
Por meses nossos jornais exclamavam: "Caos Aéreo" - "Vôos em atraso" - "Ministra diz que o atraso é inevitável: 'relaxa e goza'"
O jornal o Globo de 06 de Dezembro obtém a seguinte declaração do presidente da ANAC Milton Zuanazzi: "O brasileiro não deve ter medo de voar. Ontem, o caos ocorreu, por segurança. Jamais um avião vai voar no Brasil se detalhes de segurança não forem observados".
Mas a pressão foi maior, todas às vésperas de feriados, os repórteres corriam aos aeroportos e filmavam gente que não havia conseguido viajar porque o vôo atrasou. Mostravam como processar as companhias (e mesmo após a quebra da Varig falam em lucros exorbitantes), reclamavam das filas, falavam do Procom, filmavam crianças dormindo no chão e pressionavam as autoridades. É certo que os problemas com controladores são sérios, mas o grande responsável pelo "Caos Áereo" era Congonhas:
"11. Por que sempre que se fala em atrasos nos vôos, o aeroporto paulistano de Congonhas recebe atenção especial?
Congonhas é o maior aeroporto do país em número de passageiros - 18,4 milhões em 2006 - e de vôos - 600 por dia. Quando não é o causador das ondas nacionais de atrasos de vôos, o aeroporto localizado no meio do caos urbano de São Paulo é o mais afetado por elas, e acaba refletindo isso nos outros terminais do país. Ele trabalha há anos acima de sua capacidade - poderia receber, no máximo, 12 milhões de passageiros por ano. Para piorar, desde 24 de janeiro de 2007, toda vez que a chuva forma uma lâmina d'água sobre as duas pistas do aeroporto de 3 ou mais milímetros de profundidade (a espessura de uma moeda de 50 centavos), os pousos e as decolagens são suspensos por questões de segurança. Cumbica, em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas, têm capacidade imediata de absorver, respectivamente, 20% e 2% das operações de Congonhas, mas em breve também precisariam ser ampliados." (Veja on-line).
Se congonhas é tão importante para a situação dos vôos no país, se os jogos do PAN vão começar e ninguém quer se atrasar, se está feio pra o governo...eu pergunto: Por que não abrir mão de um pouquinho de segurança e "inaugurar as obras sem groving"?
Fábio Portela na Veja, faz menos de um mês 11-07, em "As soluções para o caos aéreo", diz o "cerne da crise aérea está no Aeroporto de Congonhas." Suas respostas são simples: Desafogar logo Congonhas, adequar a operação das companhias aéreas à infra-estrutura existente e construir um terceiro aeroporto em São Paulo.
Ora, mas será que existe neste país político capaz de enfrentar a imprensa e dizer: "Os atrasos acontecem porque estamos numa situação de reforma em Congonhas. E eu não entrego o aeroporto enquanto a segurança não for máxima ! Vocês preferem entrar num vôo seguro que atrasa, ou num vôo inseguro que sai na hora?!"
Estou louco?!! Ora, VEJA esta notícia do Carnaval:
Juiz proíbe dois modelos de aeronaves de utilizarem o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Medida pode provocar “efeito dominó” e afetar 10 mil passageiros. Governo recorreu da decisão
Pelo menos 10 mil passageiros correm o risco de ficar sem folia durante o carnaval por uma decisão da Justiça Federal que proibiu os aviões modelo Fokker-100, Boeing – 737/800 e 700 de utilizarem o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o maior em movimento aéreo do país. Para tentar salvar a festa dos foliões, Infraero e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) anunciaram ontem que irão recorrer da decisão, que começa a valer a partir de meia-noite de hoje.
Na segunda-feira, o juiz substituto da 22ª Vara Federal de São Paulo, Ronald Carvalho Filho, decidiu proibir pousos e decolagens em Congonhas por considerar que há risco de derrapagem de aviões em dias de chuva.
Ou isso:
A diretora da Anac, Denise Abreu, informou que a agência está recorrendo da decisão "porque os passageiros que já compraram suas passagens, inclusive para o carnaval, serão afetados assim como as empresas também foram atingidas".
Nossos governantes cederam a pressão do imediatismo midiático! Cederam a nossa necessidade de soluções rápidas. Mas fomos nós que exigimos soluções rápidas... SOMOS nós que reclamamos dos atrasos e que pedimos soluções rápidas. Somos nós que apreciamos atitudes de energia e de alcance imediato: "Pena de morte já" ao invés de "educação de longo prazo" - "Contratem mais controladores Já"...
Nós não temos paciência para esperar um controlador ser treinado, não temos paciência para esperar a pista ser reformada adequadamente, não temos paciência para esperar as obras do metrô serem executadas com segurança, não queremos reformas em favelas e integração com as comunidades, queremos muros e polícia... queremos tudo rápido, para ontem.
Custou-nos caro. Olho no espelho, e acuso. - Carlos Lavieri