11 junho 2020

ISOLAMENTO


Isolamento. Isolar, do latim insula, tornar uma ilha. Como se já não fossemos? Algum homem não é uma ilha? Todo homem é uma ilha.  



Nenhum homem é uma ilha, todo em si; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
 
John Donne escreveu acamado, cercado de mais uma das muitas ondas da Peste Negra que assolaram a Europa desde 300 anos antes. E nós aqui preocupados com a segunda onda! Ele riria de nós? Fala, confirmo na Wikipedia, dos sinos que tocavam a cada novo funeral. Sino que se perdeu, diante da obsessão dos números. 418.919 até esse dia 11. Alguém realmente liga? Somos 7,790,547,028, mas já somos 7,790,547,033, segundos depois. Quem ainda se sente parte de um continente, diante da nossa desumanização? Estou aqui de novo, pessoa cercada de pandemia por todos os lados, todo em mim.   
Minha ilha ainda guarda algum tesouro? Surge no recesso, a oportunidade de assistir um programa na Netflix sobre piratas. Parece que não era hábito enterrar tesouros em ilhas desertas, sendo preferível gastá-los em outras ilhas, onde a solidão é ainda mais real, mas na companhia de moças e garrafas de rum. Ainda assim, nunca se sabe. Talvez ainda tenhamos tesouros guardados nas nossas pequenas ilhas. Tenho saudades do velho normal, quando faltava tempo para vasculhar a busca de ouro e podíamos culpar o cotidiano por não o encontrar. Agora o cotidiano resume-se a preparar refeições, ajudar nas lições on line e pouca introspecção. O tempo das buscas interiores, gastamos debatendo números do COVID ou no Netflix. Aprende-se sempre algo sobre os piratas.