31 maio 2015

Sobre aquele 1%... (ou sobre os outros 99%).


Novamente leio que para cada bilionário, há 670 mil pessoas na extrema pobreza. A informação é apresentada como se uma coisa fosse completamente vinculada a outra... como se os ricos causassem os pobres. Na verdade, eu também passei muito tempo achando que o segredo da vida era pegar a riqueza e dividir. Que isso por si só, resolveria os problemas do Brasil.

Proponho então um exercício mental, para compreendermos o que realmente estamos falando.

Vamos encarar a situação do homem mais rico do mundo, o sr. Bill Gates. Chegou a hora de distribuir a riqueza dele...

Ele é um super bilionário pois é dono de uma fortuna em ações da Microsoft. Vamos então hipoteticamente confiscá-las e distribuir essa riqueza?
O que se faz com "ações da Microsoft"? Podemos vendê-las na bolsa (mas isso não faz muito sentido se o objetivo é reduzir o número de pessoas que são "proprietárias")... além disso, o confisco, e a venda jogariam o preço das ações no chão (você colocaria seu capital em algo que os governos decidiram tomar?)... Será que o ativo avaliado em 200 bilhões, agora valeria quantos bilhões? Digamos mesmo que se faça algo ainda mais simples... entregar as ações para as pessoas, individualmente, dando a posse de algumas ações para cada um. Não tentariam todos transformar isso em dinheiro? Se há uma avalanche de ações no mercado, o preço não desaba? E se, ao contrário, elas apenas "guardarem" as ações, que diferença isso fará para os beneficiados pela distribuição.  A Microsoft é dona de terras? De ouro? De poços de petróleo? O que estamos "tomando", se pensamos em "distribuí-la"?

Bem, então o segredo talvez seja apropriar-se  da empresa em si, e não somente das ações.... Os governos tomariam para si a Microsoft e se preocupariam em gerir a empresa, em garantir seu sucesso e em distribuir os lucros anuais entre as pessoas que precisam (note que já não estamos mais distribuindo os bilhões do Bill Gates, mas apenas o seu lucro). Pegadinhas: Os lucros provavelmente cairiam... empresas geridas pelo estado são menos eficientes que as privadas, produzem bem menos inovação, e ainda são frequentemente pilhadas pelos gestores (ilegalmente, mas também legalmente, pois os salários pagos são concentradores de renda (os funcionários públicos brasileiros ganham bem melhor que a população média e muitas vezes acabam virando exatamente essa casta* que os discursos contra a desigualdade querem combater)).

Então, se parece arriscado distribuir os resultados financeiros, poderíamos distribuir os produtos da microsoft de graça.... mas já não é isso que faz o pessoal do Linux?

Puxa, o concorrente entrega o produto de graça?!?


E ainda assim o Sr. Bill Gates consegue uma empresa lucrativa?!?! Como??!
Pense sobre isso por um segundo... Será que a empresa dele só é o que é porque "explora os trabalhadores"?

O verdadeiro segredo é a inovação... constante busca das empresas privadas, pressionada pela lógica do lucro. A inovação muda o mundo e melhora a vida de todos... gerando lucros absurdos para os "capitalistas". A verdade é que a inovação capitalista fez muito mais pelo mundo do que todas as tentativas de melhorá-lo pela distribuição de riquezas. Foi o avanço capitalista na área de computação e telefonia que permitiu as populações rurais ter um telefone (e vem permitindo também um Smartphone com acesso a educação gratuita) e não a preocupação dos governos em distribuir dinheiro ou falar em banda larga para todos.... Na mão dos governos telefonia era uma catástrofe.**


O mérito é muito maior para quem busca melhorar os produtos e entregar as pessoas o que elas querem, do que para quem "acha" que a população precisa disso ou daquilo e tenta suprir essas demandas via impostos recolhidos exatamente de quem produz.

Finalmente, o Sr. Bill Gates, além dos impostos que paga, distribui 3 bilhões todos os anos (um valor muito próximo do lucro que obtém), para o combate a malária e outras doenças tropicais em países extremamente pobres. Vc realmente acha que esse arranjo está ruim? Realmente as pessoas acreditam que é a existência dos ricos que produz os pobres? O mundo estaria melhor sem Bill Gates?
Ele deve ser excessão... vejamos o resto da lista de bilionários:

O mundo estaria melhor sem eles?
Sem os criadores do Google (e sem o Google)? Sem o Wal Mart? Sem as companhias telefônicas mexicanas? Sem a Amazon? Sem a Oracle? Sem o Carrefour? Sem a Blomberg?

Essas são as empresas dos maiores bilionários do mundo. Como dividir a riqueza que representam suas ações? Quanto vale uma rede varejista gigante sem a constante preocupação de torná-la a cada dia melhor para quem compra por lá? Quanto vale a Blomberg sem o capital humano que a compõe? E o Facebook?

O problema do mundo não é a existência do bilionário... O problema é transformar os 670 mil na pobreza em pessoas capazes de fazer parte do grupo mais bem remunerado. Até sou favorável a mais impostos sobre "propriedade" (em especial improdutivas e heranças), mas vamos entender como funciona o jogo... vamos entender que quando se aumentam os impostos sobre os ricos, na prática aumentamos os impostos sobre as empresas dos ricos, e aumentar o imposto sobre o Carrefour ou sobre a Telmex, na prática é aumentar os preços dos produtos consumidos pelos pobres. Vamos entender que o bolsa família é legal (e é mesmo), mas quando o pessoal fala em redistribuição, muitas vezes vende uma ilusão, que serve para que uma parte da elite (em geral no governo), sugue mais um pouco a economia em proveito próprio.



*Claro, o funcionário público tem mais estudo que a população média também. Em resumo, eles são a elite, mas afinal, estamos querendo um mundo sem elite, ou não?



**É interessante notar que atribui-se a um russo, em plena união soviética, a invenção do celular... Leonid Kupriyanovich. Mas inovar não é apenas inventar, mas por seu produto a prova em um sistema de concorrência econômica.Foi o sistema de recompensas monetárias do capitalismo americano que levou a disseminação do celular no mundo e não a paixão socialista do lado soviético.