A Folha de hoje anuncia que os Paulistanos estão bebendo mais antes de dirigir.(manchete). Na linha inferior informa que o número de embriagados ao volante flagrados em blitze da polícia já é 32% maior que em todo o ano passado. Chocante, não?! Ainda faltam 2,5 meses para o final do ano e as coisas já estão assim?! Aonde isso vai parar?
Bem observe os números que a reportagem apresenta: No ano passado, 879 pessoas foram apanhadas dirigindo embriagadas (com teor acima do permitido) em 2010. Já em 2011 foram 1167 motoristas detidos pelas mesmas condições. Oras, a reportagem não comenta, mas é possível ver em um quadro informativo que 170.512 motoristas já foram fiscalizados em 2011 (até outubro) contra 156.266 em 2010. Assim, é possível perceber que a base de pessoas paradas subiu 10%, ou seja, esse AUMENTO de 32% não faz sentido, é um número feito para enganar. Só pelo aumento do número de pessoas fiscalizadas já seria esperável que 970 pessoas estivessem dirigindo embriagadas. Claro, houve um aumento, na mesma base, da ordem de 20%, o que é muito, mas é bem menos dramático do que informa a manchete e a chamada da notícia.
A notícia ainda informa que houve uma queda do número de motoristas dirigindo sob efeito do álcool, em quantidades que não implicam em crime de transito (menos de 0,33mg - dá multa mais não dá cadeia). Mesmo com o aumento de 10% no número de pessoas fiscalizadas, o número de motoristas dirigindo tendo consumido álcool caiu de 4258 pessoas para 2653 pessoas. Isso sim uma queda significativa (38%), já que seria esperado um aumento para 4700 pessoas aproximadamente (uma queda real de 45% no número de paulistanos bebendo antes de dirigir). A manchete poderia ser "Cai número de pessoas dirigindo sobre efeito do álcool" ou "Motoristas flagrados dirigindo alcoolizados estavam mais bêbados", mas não "Paulistanos estão bebendo mais", já que de acordo com a matéria, os paulistanos estão bebendo menos, quem está mais bêbada é a porcentagem dos motoristas que foi flagrada (mas menos paulistanos foram flagrados).
Claro que esse dado da diminuição do número de paulistanos dirigindo alcoolizado é suspeito, as pessoas passaram a recusar fazer o teste do bafómetro e alguém levemente alcoolizado provavelmente é quem tem mais condições de recusar ser testado (essa suposição é minha, não está na notícia)... A matéria até esta bem escrita e informativa, mas a machete e a chamada são típicos exemplos que poderiam figurar no livro "Lies, damned lies, and statistics".
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