23 maio 2007

Paciência de Jô


Ontem o Ministro da Educação (Haddad) estava no Jô. Claro que o Sr. Soares fez questão de expressar toda a inteligência que acredita possuir... O único problema é que saiu um amontoado de falácias... vou me ater a uma: "Sr. Ministro, veja só essa menina, que tem 13 anos e não sabe escrever... isso ai é culpa do "fim das reprovação". O que o senhor acha da "aprovação automática"?"

Além da safadeza de já colocar a resposta na pergunta, o Jô precisa estudar mais...
Vamos aos fatos:
LEMBRA quando existia a reprovação, as crianças repetiam uma, duas, três, quatro vezes cada série, pois há muitos professores por ai que acham que reprovar é educar... Ao invés de ensinar os alunos, apenas os bombavam repetidamente e os tais ficavam cada vez mais desestimulados, até que aos 14 anos abandonavam a segunda série... isso era a educação pública na época da reprovação automática. (meninos eu vi)

Os resultados eram: O aluno era analfabeto aos catorze anos, não tinham mais alto estima e ferrava o ensino dos novos, pois estava na mesma sala que crianças de oito, nove anos, que não conseguiam estudar já que tinham coleguinhas adolescentes que só sabiam atrapalhar a aula.

Se é para comparar esse universo com o atual, não tenho dúvida que o atual é melhor. Mesmo que eventualmente alguns alunos cheguem a quinta série sem saber ler. Antes eles não chegariam a quinta série, mas também não iam saber ler.

REPROVAÇÃO nunca educou ninguém e era usada pelos maus professores como ferramenta disciplinar, e não para os raros casos em que deveria ser utilizada.

Educação de qualidade é a solução, sempre foi, e todo mundo sabe disso... agora educação de qualidade passa por poucos alunos na sala, envolvimento da família e da comunidade, e BONS professores. Não é o salário do professor, é o preparo. Não é o material didático, é o uso que se faz dele. Os melhores resultados de educação no ensino fundamental aparecem nas escolas que as famílias cobram o professor, participam da vida do aluno, e não deixam a peteca cair pois não caem na falácia do "ensino público é necessariamente ruim por causa da: "aqui você escolhe a desculpa que prefere ouvir dos educadores".

Salário do professor/ Carga horária pequena / Falta de Material didático / Falta de micro / falta de reprovação / alunos burros / alunos desqualificados.

OBS: Em comentário que recebi depois, o "leitor amigo" José Pinto fala que o Jô Soares é uma pessoa inteligente, e que meu texto não reflete isso. - Tem toda a razão, em ambos os pontos. Não se pode negar que o Jô seja inteligente, e apesar do hábito brasileiro de julgar e inferiorizar quem faz sucesso, não pretendo incorrer neste erro. O Jô realmente merece no mínimo respeito, por ter conseguido sucesso profissional e emplacar o seu programa, que excede muito o fraco nível da televisão brasileira, mas também não supera qualquer semanário (Veja, Época, Isto é...) quando se trata de profundidade. Por outro lado, não posso retirar meu comentário, e desconsiderar que os comentários do apresentador estavam pautados em desconhecimento e preconceitos sobre o assunto "Educação".

Escrevi mais sobre isso em:

http://carloslavieri.blogspot.com/2007/07/ainda-sobre-repetncia.html







4 comentários:

Anônimo disse...

Carlos,
A "reprovação automática" simplesmente continua formando alunos que não sabem ler, com baixa auto-estima (por ser o que não sabe nada da turma).
Alunos que só não largam a escola por causa da "bolsa esmola", atrapalhando os outros de avançar pois o professor tem que voltar o curriculo para tentar recuperar o tal defasado. O único diferencial pós progressão continada é que estes perdem o minimo de respeito pela instituição que o pessoal de antes pelo menos tinha.

Salomão disse...

Caro Anônimo, me desculpe, mas como disse no texto, não acho a aprovação automática a solução do mundo da educação (que passa por um tripé simples: "envolvimento da família e da comunidade - educadores que percebem esse envolvimento e se aplicam (diretor, professor, etc...) - olhar para cada aluno como um ser humano") É apenas isso.

Agora, achar que o problema da educação é a falta de reprovação é ignorância. E você realmente consegue acreditar que o respeito do professor existia no sistema anterior em que ele repetia sistematicamente crianças de 7 anos, porque eram delinquentes?

Viviane disse...

Desculpe, mas não concordo contigo não. Primeiro que não é um ou outrou aluno que chega a 5a. série sem saber ler - quando falo ler, não é não saber identificar letras ou palavras, falo do analfabeto funcional, aquele que sabe ler mas não sabe interpretar o que lê, por conta da dificuldade de interpertaçao também não consegue se espressar escrevendo - são muitos, muitos mesmo. Esse pessoal termina o fundamental, entra para o médio, passa anos na escola achando que sabe alguma coisa, quando sai dali, se tentam um vestibular ficam de fora, pois não dominam um conteúdo básico, ou como não sabem ler direito são incapazes de interpretar uma questão de prova - fui professora de pre-vestibular comunitário, onde a maior parte é proveniente de escola pública e mesmo dando aula de historia, percebia que a grande dificuldade a maior parte dos alunos é entender o que a questão pede.
O problema é que com o fim da reprovação, o que era o ultimo apelo para o aluno estudar, desapareceu. Ouço vários colegas dizendo que mais escutam agora nas escolas que trabalham é que seus alunos dizem na cara deles "estudar para quê? naõ serei reprovado!". E é verdade. Ele não será reprovado, não será cobrado por algo que deveria ter feito e não fez. Seria ingenuidade pensar qeu todas as crianças e jovens que vão a escola é por amor ao ensino e conhecimento. Vão porque é uma cobrança da família, uma cobrança social. Como toda criança prefeririam ficar brincando em casa ou na rua que ir a escola. Entretanto a escola existe e quem nela esta deve se enquadrar a determinadas regras. A existencia de regras, cobranças, limites é algo normal em qualquer tipo de instituição e relacionamentos, mesmo quando as mesmas não estão explicitas. Até mesmo no grupo familiar, ou grupo de amigos, existem regras e quem não as segue, acaba sofrendo sanções.
Eu concordo com você quando diz que reprovação não melhora a educação.
Reprovação melhora o ensino? Não. Muito menos a aprovação automática. Esta gera sim altos indices de aprovação que beneficiam e muito os govenos municipais e estaduais, mas para o aluno e para o professor continua a mesma coisa. Acho inclusive que o fim da reprovação agrava a imagem da escola pública, que passa a ser vista como instituição de fachada onde so param os que realmente não tem muita perspectiva de vida.
E um outro detalhe, esse tipo de escola que você citou, onde os pais cobram dos professores, são escolas onde existe reprovação, não tenha dúvida disso. São escolas de classe média, e os alunos que ali estão, não se engane, não têm interesse pelo conhecimento, têm interesse assim como seus pais em um lugar no mercado de trabalho. O que dizer de um progeto de ensino como da Escola Pentagono, aqui do Rio, onde o estudante passa o ensino médio inteiro se concentrando em estudar para o vestibular? Isso é educação? E naõ tenha dúvida que nessa escola existe reprovação, assim como existe reprovação no Santo Inácio, no Cefet, no Pedro II, na Federal de Quimica e etc...
Todas escolas de ponta.
O problema não é reprovação ou aprovação, realmente, mas a reprovação é o ultimo recurso d professor para fazer um aluno que não tem incentivo em casa, nem do meio em que vive, nem do goveno, visto a situação de várias escolas publicas, para estudar. É triste isso? Sim. Não deveria ser assim? Não, não deveria. Mas é assim que as coisas são e acabar com a reprovação não resolve o problema que é muito mais profundo, só agrava e beneficia as estatisticas governamentais.

Viviane disse...

Ah, sim, você diz: "...educação de qualidade passa por poucos alunos na sala, envolvimento da família e da comunidade, e BONS professores. Não é o salário do professor, é o preparo.". Bom, como o professo pode se preparar, pode se dedicar as suas turmas em uma única escola se o salario de uma única escola não paga seu aluguel? Pois, é, professor é um trabalhador como outro qualquer, tem que comer, tem que pagar a luz, agual, tem familia para sustentar, tem que pagar aluguel e tem, obviamente, de se manter atualizado, visto que desenvolve um trabalho intelectual. Mas ganhando pouco mais de 400 reais, essa é a remuneração de um professor da rede estadual no Rio de Janeiro, fica meio difícil. Essa modelo de professor que você propõe poderia existir se ele fosse remunerado dignamente nas instituições de ensino públicas, coisa que não acontece. O governo oferece cursos de aperfeiçoamento? Sim, oferece. Mas o professor não pode ir, pois ele esta trabalhando em outra escola. Final de semana? Bom, o final de semana, para qualquer trabalhador é para o lazer, para fazer coisa que ele gosta e não coisas relacionadas ao trabalho. Mesmo assim é comum vermos a maior parte dos professores passando fins de semana inteiros corrigindo provas e trabalhos. Então como ele vai se aperfeiçoar, como vai se preparar?
A situação é complicada até mesmo na rede particular. Poucas escolas querem contratar. A maior parte quer pagar hora/aula que é uma merreca. Então o cara tem que trabalhar como um louco pra se sustentar e naõ consegue criar um laço, um envolvimento com a escola e com seus aluno, o que, na minha opinião, é um fator importante para que ocorra ensino e aprendizado de qualidade.