15 fevereiro 2011

Elite não é classe média alta.

A folha essa semana trouxe um texto em que um sociólogo, Jésse Souza , diz que a nova classe média brasileira não é uma típica classe média. Fernando de Barros e Silva, da Folha de São Paulo, repete a mesma "descoberta". A parte realmente interessante do argumento, que fica visível nas formulações, do sociólogo, e do jornalista, é o argumento de que essa classe de emergentes não é a típica classe média, já que não detém cultura... Não que haja preconceito, afinal há elogios aos emergentes que teriam chegado lá trabalhando, mas atenção às entrelinhas. Visto de outra forma, o argumento de ambos é que essa "nova classe média", não é classe média porque não é como o sociólogo, como o jornalista, como os leitores da folha, como eu, como você, como as pessoas que tem TV a cabo ou tem educação superior de qualidade.

Oras, do meu ponto de vista o que ocorre não é um erro no reconhecimento da classe média, que inclusive sempre foi classe média, pois sempre esteve na média da renda nacional (eram 40% da população, agora são 52% e é sobre esses 12% que da-se mérito ao Lula). A classe média é composta por aqueles que ganham mais de 1500,00 por mês e menos de 4600,00 (renda familiar e NÃO RENDA PER CAPTA). O que ocorre é que nossa elite é incapaz de se ver como elite e prefere acreditar que é parte de uma fictícia "classe média alta". Como no Brasil, ser rico é mal visto, os 20% mais ricos da população preferem acreditar que não são ricos. O sociólogo, o jornalista, e qualquer um que leia a Folha, a Veja, a Carta Capital, a Isto é, ou a Época, faz parte de uma minoria... A triste verdade é que se você é capaz de compreender esse texto, provavelmente faz parte de uma ínfima parcela da população (saber o que é ínfima já te coloca em uma elite intelectual e econômica). Esta parcela reclama que no Brasil a culpa é "das elites" ou "dos ricos", mas não se dá conta de ser membro dessa elite. ATENÇÃO, SE SUA FAMÍLIA GANHA MAIS DE R$ 5.000,00 MENSAIS, VOCÊ FAZ PARTE DOS 10% MAIS RICOS DA POPULAÇÃO. Estar nos 10% finais da curva normal não é MÉDIA em lugar nenhum. Tenho certeza que o professor Jésse Sousa, professor doutor de Universidade Federal, formado na Alemanha, tem um salário na universidade e uma renda proveniente da venda de livros que o coloca nesses 10% mais ricos.

Na verdade, tenho certeza que a imensa maioria das pessoas que acha que é classe média, é na verdade membro das parcelas mais endinheiradas do país. É fácil perceber isso quando sabemos que 50% da população brasileira vive com uma renda familiar mensal de menos do que 1000 reais por mês. Apenas 29% da população tem uma renda familiar superior a 3.000,00 reais por mês (classes A e B - Fonte: Ipsos Marplan). Se esses números te parecem esquisitos (ou se você viu uma das várias tabelas erradas de distribuição de renda que eu vi na WEB), pode fazer uma conta fácil. PIB brasileiro, um pouco menos de 2 trilhões de dolares. O número de brasileiros é de 200 milhões. Assim, nosso PIB per capta ANUAL é de 10.000 dólares. Isso, dividido pelos 12 meses do ano, dá 830 dólares per capta por mês. Como o dólar está em 1,7 Reais, resulta que cada pessoa no Brasil poderia ganhar 1400 Reais (se fosse dividido igualzinho e não houvesse juízes, deputados, entre outros ganhando mais de 10.000,00 por mês e achando que é pouco).

Bem, por que é importante conhecer esses dados e essa realidade? Porque não faz sentido apoiar greve de professores que já ganham 6.000 reais por mês, porque não faz sentido ficar dizendo que rico paga pouco imposto e a classe média é achacada e ainda tem que pagar plano de saúde, clube e escola particular. Se você pode pagar plano de saúde ou escola particular ou clube, você já faz parte da elite. Melhor mudar o discurso e brigar para que a elite possa ter mais membros, assim talvez, sua parte nas contas diminua.



09 fevereiro 2011

Se formou em contabilidade, agora tem de fazer prova do CRC.

Pois é, demorou mas o Conselho Federal de Contabilidade (e os conselhos regionais) conseguiu aprovar seu exame. A idéia não é nova e em 2002 o CRC havia tentado colocar como obrigatoriedade para o registro o exame profissional. Diversos "desaprovados", após a primeira prova, entraram com mandato de segurança e ganharam, pois não é aceitável que pura e simplesmente o conselho exija mais uma prova sem que o MEC nunca disse necessária. O conselho então começou um processo para transformar tal prova em Lei, como fez antes a OAB, e após 8 anos conseguiu. Então a partir de agora para atuar como contador ou técnico em contabilidade, tem que passar na prova. A Central de Ensino sempre teve bons professores nessa área, então é natural que estejamos realizando um curso preparatório para o exame do CRC. Ainda assim, não tenho posição clara sobre essa exigência. Afinal, me parece uma tremenda sacanagem enganar um aluno por todo o processo educacional e depois que ele faz uma faculdade privada de última linha, não consegue tornar-se advogado ou contador porque não passa na prova. Além disso, não devemos esquecer que com os anos a tendência é que outras profissões tenham exigência igual, o que faz sentido para médicos, mas não faz sentido para administradores, designers ou jornalistas...

Finalmente, fica aquela questão, nos EUA exames como esses existem, mas se a pessoa passa na prova, mesmo sem ter feito o curso, ela pode exercer a profissão. Todos os anos vários advogados autodidatas surgem. Aqui isso parece impensável.