24 dezembro 2015

Groundhog Year - Meus votos aos coxinhas e mortadelas.

E 2016?
Nunca fiz uma lista dos 10 melhores filmes, mas se fizesse, certamente o Feitiço do Tempo (Groundhog Day) figuraria na lista. Comédia romântica pouco pretensiosa, com o desagradável Bill Murray, fazendo o papel de um também desagradável  Phil Connors, um homem preso no tempo, condenado a reviver o mesmo também muito desagradável dia. O filme, do qual pouco se espera, coloca a partir de uma historinha ingênua, algumas das mais interessantes questões filosóficas que há. Se você não assistiu, assista.

2015 foi um ano estranho. Como país, como sociedade, pouco se fez e regredimos em vários aspectos. Felizmente 2016 está ai, mas apesar das esperanças de muitos, parece que será um repeteco de 2015. Dilma continuará, Cunha continuará, Renan continuará, o plano para enfrentar a crise econômica é o mesmo de 2015, a CPMF continua espreitando, as projeções são de queda em PIB e desemprego, e a Lava Jato continuará tornando ar o que era sólido, o clima de beligerância entre mortadelas e coxinhas mantem-se, os debates vão cada vez mais rasos,... as esperanças "liberais" apostam num incerto impeachment que chacolhe o tabuleiro, mas sabem que a cura não será rápida, nem indolor e se não forem ingênuos sabem também que há muita coisa errada que não vai acabar com a troca da presidente. Mesmo os eleitores Dilmistas que não querem que ela saia, pois temem uma troca para pior, não se mostram esperançosos com grandes melhoras vindas do governo em que votaram, mostrando apenas um silencioso pasmo com o futuro.  Parecemos condenados a reviver o mesmo ano novamente, não apenas em 2016, mas pelos próximos três anos, até que outras eleições apareçam.

E é ai que eu penso em Phil Connors.
..

Se estamos presos em 2015, condenados a reviver o inferno, façamos como Phil Connors. Se nada muda ao nosso redor, somos nós que temos de mudar, e é em nós que deve ocorrer a transformação que nos libertará dessa situação tragicômica. Em 2016 eu tenho apenas um desejo. Desejo que as pessoas ao meu redor se perguntem como fazer diferente e façam. Sugiro a todos que escolham algumas causas e as defendam. Que organizem comboios para ajudar o pessoal do Vale do Rio Doce, que no final de semana plantem árvores nas ruas, que façam hortas comunitárias, que peçam melhores direitos aos animais ou caso achem essas bandeiras "coisa de esquerda vegetariana", que convidem velhos amigos perdidos para um churrasco e participem de grupos de vigilância sobre as contas dos governos. Se são capitalistas puros que acreditam apenas na força do capital, que façam sua doação para ONGs e voluntariem-se para ministrar aulas de empreendedorismo. Sugiro que olhem para as pessoas ao redor e vejam que estas também compartilham preocupações parecidas com as suas, mesmo que as vezes tenham opiniões muito diferente.
Da minha parte, desejo pouco de 2016 e muito dos que estão a minha volta. Convido a todos a me ajudar a fazer um mundo melhor nesse 2016. Um feliz natal para nós e o 2016 que realizaremos.

01 dezembro 2015

O Falso Inimigo

As redes sociais se especializaram em criar o "falso inimigo". O falso inimigo é o camarada que quer a volta da ditadura militar, é a velhinha de Higienópolis que não quer a chegada do metro, é finalmente, e exemplo máximo, o camarada que quer o "fim dos privilégios para os deficientes". É o camarada que usa a liberdade de expressão para falar muito mal de outros grupos.
A verdade é que esse inimigo não é importante, é caricato, existe em números mínimos (quando existe mesmo, como vimos no caso dos direitos dos deficientes, um péssimo "anti-viral" de quem é a favor dos direitos e não contra), em suma, não tem qualquer representatividade. É uma minoria, que não dá 9% da população... e normalmente não passa dos 1%. Ele merecia viver no limbo do esquecimento e pronto.
Mas...
O falso inimigo é muito conveniente... ele é conveniente para que você possa expressar a sua humanidade e a sua indignação, onde não há praticamente controvérsia. Todo mundo compartilha feliz que não quer a ditadura (seja a bolivariana, seja a militar), vai no churrasco de gente diferenciada, fala mal dos sem noção que querem o fim dos privilégios dos deficientes, reclama dos carrocratas e da cegueira de quem não é a favor do corredor de ônibus. Participar de uma bandeira de verdade, se mexer por uma causa de verdade, dá muito mais trabalho do que protestar sobre o fim da humanidade porque tem um camarada que pede a ditadura neonazista cortando o cabelo e tatuando uma suástica.



Isso é claro, tem um problema. Acaba-se dando voz para essa minoria estúpida. Milhares de pessoas compartilhando essa indignação, acabam fazendo movimentos risíveis ganharem legitimidade. Mas esse para mim, não é o problema principal... o problema principal associa-se a deslegitimação do debate pela postura dos extremos. O falso inimigo também é MUITO conveniente para o grupo que defende o extremo oposto daquela posição. Nada ajuda mais a causa dos que querem instalar uma ditadura de esquerda, do que uma filmagem de uma milícia de direita se preparando para a batalha. Ou você está conosco, ou contra nós.

De repente cidadão que estava lá protestando contra a Dilma (que praticamente só tem reprovação) é igualado ao camarada que acha que a tortura não existiu. De repente você que acha que o estado mínimo não é legal, é igualado aos três sem noção que querem uma ditadura bolivariana no Brasil. De repente, o pedreiro protestante pentecostal que vai a igreja em busca de comunidade e comunhão, é igualado ao pentecostal que fica pregando que os gays vão pro inferno. De repente, todos os muçulmanos são igualados à meia dúzia de terroristas. E isso é péssimo. É péssimo porque a maior parte das pessoas age fazendo parte de um grupo, com ideais de um grupo, identificando-se com esse grupo, e construindo sua vida, na lógica desse grupo. Já está mais do que demonstrado que uma parcela grande das pessoas age estupidamente, se o grupo ao qual pertence assim o fizer. E se for profundamente divulgado que o meu grupo tem uma ideia imbecil, corro o risco de acabar aceitando isso.
Imaginemos um crente hipotético da religião A.
Ele pode achar que sendo um fiel da igreja A, tem que ter as posturas dos outros fieis da igreja... a igreja prega o amor e o respeito ao próximo (todas pregam), mas na internet o que aparece não é isso, aparece que a igreja desrespeita as outras e é contrária a adoção de crianças por gays. Isso é o que reverbera e é divulgado. Esse cidadão terá agora que ser forte, para não adotar uma postura sobre a qual nunca refletiu. É a Ignorância Pluralística em ação. Na missa de domingo, o pastor/ministro/sacerdote, poderá ainda reforçar isso, pois viu nas redes sociais, que esse tipo de questão "dá ibope".

E o triste fato é que depois que a pessoa "assumiu" uma posição, fica muito mais complicado de debater com ela. Depois que o camarada concluiu que os casais homo afetivos não devem poder adotar crianças, a conscientização fica muito mais complicada. Se as pessoas pensassem "isentas" sobre temas como esse, onde a única controvérsia é o preconceito. Seria muito mais simples de formarem posições pensadas e não de anuência ao grupo.

Assim, faço esse texto como um pedido simples. Ao ver uma posição completamente absurda nas redes sociais, segure seu ímpeto de compartilhá-la, você pode estar reforçando a causa, ao invés de enfraquecê-la.