Os sonhos do Faraó
Está nas tintas do livro sagrado. Lembra-te quando o Faraó teve sonhos com sete vacas gordas, com espigas graúdas e miúdas, com sete vacas magras devorando as sete vacas gordas e chamou José:
José, que não era brasileiro, traduziu:
LIVRO DE GÊNESIS — Capítulo 41
29 Eis que vêm sete anos de grande fartura em toda a terra do Egito;
30 a estes seguirão sete anos de fome, e toda aquela fartura será esquecida na terra do Egito e a fome consumirá a terra;
E José, dando claras instruções, disse para onde:
34 Faça isto Faraó: nomeie administradores sobre a terra, que tomem a quinta parte dos produtos da terra do Egito nos sete anos de fartura;
35 e ajuntem eles todo o mantimento destes bons anos que vêm, e amontoem trigo debaixo da mão de Faraó, para mantimento nas cidades e o guardem;
36 assim será o mantimento para provimento da terra, para os sete anos de fome, que haverá na terra do Egito; para que a terra não pereça de fome.
37 Esse parecer foi bom aos olhos de Faraó, e aos olhos de todos os seus servos.
Mas, no nosso país, as vacas estão gordas, o Dólar está caindo e então no que pensa nossa população, nossos governantes, nosso Faraó, e o José? Em separar parte da gordura das vacas? Em guardar nos silos os rios de soja? Ou em gastar a fartura em importados da China? Ou em consumir carros novos e comprar a crédito? Ou em viagens ao exterior com Dolar barato?
Mas não se preocupe, porque o nosso governo já providenciou, e melhor do que o Faraó, toma não apenas 1/5 (20%) da produção da Terra em que tudo dá, mas 35%. E nosso Faraó é muito mais sábio, e não espera que os anos de fartura acabem... "Por que esperar? Neste país nunca antes houve tanta abundância"... e distribui entre os seus o que recolheu daqueles que produzem com seu suor. Não se preocupe com as vacas, o problema são as vagas.
Carlos pergunta: "E agora José?"
José não responde... sua resposta foi esquecida, e ele está muito cansado, pois seus ombros suportam o mundo.
Enquanto isso os escribas, os economistas, os mensaleiros, os senadores, os agricultores, os investidores, os miseráveis, as mães, e os filhos das mães... todos se alegram e esquecem que não há planos para o futuro, não há projeto, não há destino pensado, há apenas a fartura, o deixar correr o barco, deixar fluir o mundo, fazer negócios da china, navegar sem destino... como Alice, que podia tomar qualquer caminho, pois não sabia para onde ia...
Mas já dizia o poeta:
"Navegar é preciso. Viver não é preciso."
Infelizmente, ao saber do PAC, que não sai, da reforma tributária, que não sai, dos acordos comerciais, que não saem, da reforma previdênciaria, que não sae, dos juros, que não caem, penso apenas no livro sagrado:"e Faraó contou-lhes os seus sonhos, mas não havia quem lhos interpretasse..."
Carlos Lavieri
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