24 outubro 2011

Piorando a notícia. Distorcendo as estatísticas.

A Folha de hoje anuncia que os Paulistanos estão bebendo mais antes de dirigir.(manchete). Na linha inferior informa que o número de embriagados ao volante flagrados em blitze da polícia já é 32% maior que em todo o ano passado. Chocante, não?! Ainda faltam 2,5 meses para o final do ano e as coisas já estão assim?! Aonde isso vai parar?

Bem observe os números que a reportagem apresenta: No ano passado, 879 pessoas foram apanhadas dirigindo embriagadas (com teor acima do permitido) em 2010. Já em 2011 foram 1167 motoristas detidos pelas mesmas condições. Oras, a reportagem não comenta, mas é possível ver em um quadro informativo que 170.512 motoristas já foram fiscalizados em 2011 (até outubro) contra 156.266 em 2010. Assim, é possível perceber que a base de pessoas paradas subiu 10%, ou seja, esse AUMENTO de 32% não faz sentido, é um número feito para enganar. Só pelo aumento do número de pessoas fiscalizadas já seria esperável que 970 pessoas estivessem dirigindo embriagadas. Claro, houve um aumento, na mesma base, da ordem de 20%, o que é muito, mas é bem menos dramático do que informa a manchete e a chamada da notícia.

A notícia ainda informa que houve uma queda do número de motoristas dirigindo sob efeito do álcool, em quantidades que não implicam em crime de transito (menos de 0,33mg - dá multa mais não dá cadeia). Mesmo com o aumento de 10% no número de pessoas fiscalizadas, o número de motoristas dirigindo tendo consumido álcool caiu de 4258 pessoas para 2653 pessoas. Isso sim uma queda significativa (38%), já que seria esperado um aumento para 4700 pessoas aproximadamente (uma queda real de 45% no número de paulistanos bebendo antes de dirigir). A manchete poderia ser "Cai número de pessoas dirigindo sobre efeito do álcool" ou "Motoristas flagrados dirigindo alcoolizados estavam mais bêbados", mas não "Paulistanos estão bebendo mais", já que de acordo com a matéria, os paulistanos estão bebendo menos, quem está mais bêbada é a porcentagem dos motoristas que foi flagrada (mas menos paulistanos foram flagrados).

Claro que esse dado da diminuição do número de paulistanos dirigindo alcoolizado é suspeito, as pessoas passaram a recusar fazer o teste do bafómetro e alguém levemente alcoolizado provavelmente é quem tem mais condições de recusar ser testado (essa suposição é minha, não está na notícia)... A matéria até esta bem escrita e informativa, mas a machete e a chamada são típicos exemplos que poderiam figurar no livro "Lies, damned lies, and statistics".

15 fevereiro 2011

Elite não é classe média alta.

A folha essa semana trouxe um texto em que um sociólogo, Jésse Souza , diz que a nova classe média brasileira não é uma típica classe média. Fernando de Barros e Silva, da Folha de São Paulo, repete a mesma "descoberta". A parte realmente interessante do argumento, que fica visível nas formulações, do sociólogo, e do jornalista, é o argumento de que essa classe de emergentes não é a típica classe média, já que não detém cultura... Não que haja preconceito, afinal há elogios aos emergentes que teriam chegado lá trabalhando, mas atenção às entrelinhas. Visto de outra forma, o argumento de ambos é que essa "nova classe média", não é classe média porque não é como o sociólogo, como o jornalista, como os leitores da folha, como eu, como você, como as pessoas que tem TV a cabo ou tem educação superior de qualidade.

Oras, do meu ponto de vista o que ocorre não é um erro no reconhecimento da classe média, que inclusive sempre foi classe média, pois sempre esteve na média da renda nacional (eram 40% da população, agora são 52% e é sobre esses 12% que da-se mérito ao Lula). A classe média é composta por aqueles que ganham mais de 1500,00 por mês e menos de 4600,00 (renda familiar e NÃO RENDA PER CAPTA). O que ocorre é que nossa elite é incapaz de se ver como elite e prefere acreditar que é parte de uma fictícia "classe média alta". Como no Brasil, ser rico é mal visto, os 20% mais ricos da população preferem acreditar que não são ricos. O sociólogo, o jornalista, e qualquer um que leia a Folha, a Veja, a Carta Capital, a Isto é, ou a Época, faz parte de uma minoria... A triste verdade é que se você é capaz de compreender esse texto, provavelmente faz parte de uma ínfima parcela da população (saber o que é ínfima já te coloca em uma elite intelectual e econômica). Esta parcela reclama que no Brasil a culpa é "das elites" ou "dos ricos", mas não se dá conta de ser membro dessa elite. ATENÇÃO, SE SUA FAMÍLIA GANHA MAIS DE R$ 5.000,00 MENSAIS, VOCÊ FAZ PARTE DOS 10% MAIS RICOS DA POPULAÇÃO. Estar nos 10% finais da curva normal não é MÉDIA em lugar nenhum. Tenho certeza que o professor Jésse Sousa, professor doutor de Universidade Federal, formado na Alemanha, tem um salário na universidade e uma renda proveniente da venda de livros que o coloca nesses 10% mais ricos.

Na verdade, tenho certeza que a imensa maioria das pessoas que acha que é classe média, é na verdade membro das parcelas mais endinheiradas do país. É fácil perceber isso quando sabemos que 50% da população brasileira vive com uma renda familiar mensal de menos do que 1000 reais por mês. Apenas 29% da população tem uma renda familiar superior a 3.000,00 reais por mês (classes A e B - Fonte: Ipsos Marplan). Se esses números te parecem esquisitos (ou se você viu uma das várias tabelas erradas de distribuição de renda que eu vi na WEB), pode fazer uma conta fácil. PIB brasileiro, um pouco menos de 2 trilhões de dolares. O número de brasileiros é de 200 milhões. Assim, nosso PIB per capta ANUAL é de 10.000 dólares. Isso, dividido pelos 12 meses do ano, dá 830 dólares per capta por mês. Como o dólar está em 1,7 Reais, resulta que cada pessoa no Brasil poderia ganhar 1400 Reais (se fosse dividido igualzinho e não houvesse juízes, deputados, entre outros ganhando mais de 10.000,00 por mês e achando que é pouco).

Bem, por que é importante conhecer esses dados e essa realidade? Porque não faz sentido apoiar greve de professores que já ganham 6.000 reais por mês, porque não faz sentido ficar dizendo que rico paga pouco imposto e a classe média é achacada e ainda tem que pagar plano de saúde, clube e escola particular. Se você pode pagar plano de saúde ou escola particular ou clube, você já faz parte da elite. Melhor mudar o discurso e brigar para que a elite possa ter mais membros, assim talvez, sua parte nas contas diminua.



09 fevereiro 2011

Se formou em contabilidade, agora tem de fazer prova do CRC.

Pois é, demorou mas o Conselho Federal de Contabilidade (e os conselhos regionais) conseguiu aprovar seu exame. A idéia não é nova e em 2002 o CRC havia tentado colocar como obrigatoriedade para o registro o exame profissional. Diversos "desaprovados", após a primeira prova, entraram com mandato de segurança e ganharam, pois não é aceitável que pura e simplesmente o conselho exija mais uma prova sem que o MEC nunca disse necessária. O conselho então começou um processo para transformar tal prova em Lei, como fez antes a OAB, e após 8 anos conseguiu. Então a partir de agora para atuar como contador ou técnico em contabilidade, tem que passar na prova. A Central de Ensino sempre teve bons professores nessa área, então é natural que estejamos realizando um curso preparatório para o exame do CRC. Ainda assim, não tenho posição clara sobre essa exigência. Afinal, me parece uma tremenda sacanagem enganar um aluno por todo o processo educacional e depois que ele faz uma faculdade privada de última linha, não consegue tornar-se advogado ou contador porque não passa na prova. Além disso, não devemos esquecer que com os anos a tendência é que outras profissões tenham exigência igual, o que faz sentido para médicos, mas não faz sentido para administradores, designers ou jornalistas...

Finalmente, fica aquela questão, nos EUA exames como esses existem, mas se a pessoa passa na prova, mesmo sem ter feito o curso, ela pode exercer a profissão. Todos os anos vários advogados autodidatas surgem. Aqui isso parece impensável.

08 outubro 2010

Para quem chegou agora...

Para quem chegou agora...

Em 1994 FHC (governou de 1995 até 2002) foi eleito com meu voto. Em minha ingenuidade juvenil, acreditava que o PT e o PSDB, partidos que eu via como honestos, iam se livrar daquelas “velhas elites agrárias”, associando-se e governando. Estava enganado. O PT continuou na oposição (votando até contra a constituição) votava sistematicamente contra tudo, era contra Bolsa Família (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=Sy4kjF-7anw), CPMF, juros altos, etc... como dizia Lula “não se associava a “escumalha” do PSDB”. Fernando Henrique, por razões questionáveis e também pragmáticas, associou-se a real “escumalha”, fisiologistas do PMDB e do DEM, para compor maioria e governar. Motivos pequenos moveram o congresso e os anões fizeram a festa. Em 1998 já não era possível dizer que você havia votado no FHC na USP sem ser considerado um bandoleiro e Lula falava em governo paralelo. A seita do PT reinava e o mundo usava estrelinha no peito. Graças a Deus nunca cheguei a tanto.

Em 2002 votei no Lula, meio a contragosto. Sabia que o projeto do PSDB era discutível, mas não era ruim, e parte de seus problemas vinham da instabilidade que criava o “risco Lula”. O dolar, só pra exemplificar, ia a quatro reais, pois os investidores com medo da esquerda tiravam o dinheiro do Brasil. O governo Lula foi tudo o que não se imaginava... ele deu continuidade a todas as políticas do PSDB que questionava, juros altos, aumento de impostos, assistencialismo e desenvolvimentismo. Para governar, também não chamou o PSDB, preferindo associar-se a velha escumalha de sempre (Sarney, Collor, PMDB...). A pilhagem rolou solta, mas por outro lado, os investimentos externos e o não cumprimento das promessas de campanha (reforma agrária por exemplo) fizeram com que o mercado parasse de ter medo do PT e finalmente o país crescesse com investimento externo. Desde então o dólar cai mês a mês, o que compromete a posição concorrencial do País. Ficou absolutamente óbvio que o PT não tinha objeções ao projeto do PSDB, contanto que eles estivessem pilotando o navio pirata.

Agora, em 2010, a situação é a seguinte: O Serra mentiu descaradamente nos últimos anos, só para ver se consegue sentar no trono, o exemplo mais simples e mais marcante é a tal carta se comprometendo a não sair do cargo no meio do mandado para concorrer a outro cargo, mas há outros exemplos, como a pilantragem que ele fez em cima dos usuários dos planos de saúde. Quem vota no Serra o faz porque acha que ele não vai cumprir as promessas de campanha como dar aumento para o funcionalismo e que é assim mesmo, tem que jogar sujo para se eleger, ou seja, mentir virou atributo positivo.

Do outro lado a mesma coisa, e vemos Dilma mudando de opinião sobre o aborto porque ela não vai chegar lá se falar o que pensa. Também os eleitores de Dilma acham isso normal, mas com um pouco menos de racionalidade atribuem essa questão ao “fascismo do PSDB”.

Em resumo, nessa eleição, estamos decidindo apenas quem vai dividir o BUTIM e é SÓ. Você quer um navio pirata com bandeira de estrela vermelha? Voto no que não vai ser eleito, para mandar meu recado para o eleito. Se o Serra estiver na frente, voto na Dilma, como a Dilma está na frente, voto no Serra. Feliz mesmo, só se ambos empatarem e depois se envolverem numa colisão área caindo em cima do companheiro Michel Temer e do amigo Indio, situação em que o presidente da câmera assume, provavelmente o Sarney! Opâ, nem assim serei feliz!

08 setembro 2010

Horário Eleitoral...

Salário mínimo digno de 2500 reais.
Assisti ao horário eleitoral.. adorei a proposta de um salário mínimo digno de 2500 reais. A idéia é tão fácil de ser cumprida que posso apostar que esse é o salário que o pessoal do PCdoB, ou seja lá qual é o partido autor da proposta, paga para a secretária e a faxineira do partido... que tal alguém ir lá verificar...

Tiririca
A Folha traz texto de Sérgio Tamer, procurador federal, ligado ao partido da república (ex Prona), defendendo que o Tiririca tem mais é que fazer palhaçada para se eleger... Vejam só que o Prona aprendeu com o Enéas a ter votações expressivas e eleger uns trastes pelo voto da legenda usando candidatos bizarros. No caso do Enéas, ao menos inicialmente, sua indignação parecia séria, mas com o Tiririca, como fica??
Como ainda ponho fé no povo brasileiro, acho que o Tiririca não será eleito...

Em tempo, qual a diferença entre procurador federal e procurador da república?


Direita, esquerda volver...

Pois é, após os comentários do Fernando abaixo, fica meio confuso saber o que é direita e o que é esquerda. Também não sei exatamente, mas vamos lá, de memória:

Esquerda, associa-se com a posição das cadeiras na assembléia francesa, do grupo burguês, contrário, ao clero e a nobreza... daí a esquerda ficou associada ao grupo contrário as forças dominantes e que pede mudanças no status quo. Se a definição é essa... fica difícil acreditar que o Serra, o Lula, a Dilma, a Marina (e seu vice presidente da natura) ou qualquer um dos nossos atuais candidatos seja de esquerda, já que estão todos associados "as elites (intelectuais e financeiras), aos bancos, as grandes empresas (Vale, Petrobrás, Construtoras) e a manutenção do status quo".

Se esquerda for lida como relativa ao socialismo e ao comunismo, como era na época da ditadura, o Brasil é a terra da pseudo-esquerda. Todos os partidos se dizem de esquerda, pregam que o "estado" é um pai bom que vai resolver o problema dos filhos (incapazes por natureza a se virarem e resolverem os próprios problemas).

Mas cá entre nós, isso ai é assistencialismo e desenvolvimentismo (muito bem colocado pelo Fernando) ... Note que na época da ditadura, a esquerda era assim chamada porque queria romper com as oligarquias e fazer a revolução socialista... essa bandeira caiu por terra (exceto no PSOL e outras aberrações), e nossos candidatos de esquerda não estão mais nem ai para o marxismo. A coisa mais próxima de um governo socialista (estado forte, desenvolvimento militar, controle da imprensa, romper com o capitalismo americano) era a proposta do Prona, que tem muito mais ares de direita radical, do que de esquerda radical.. (faltava encerrar a propriedade privada)

De forma geral, repito minha sensação... não tem ninguém ai que acredite em estado mínimo ( o FHC não acreditava, fez meia duzia de privatizações, mas simultaneamente aumentou brutalmente a arrecadação de impostos (em proporção ao PIB) e o tamanho do estado, basta ver os números). Não tem nenhum candidato que ache que o problema é excesso de exigências, leis, burocracias, impostos, funcionalismo público, em suma, de governo... Não tem ninguém que ache que os americanos são como são porque prezam o indivíduo e as conquistas individuais, e portanto isso deve ser valioso. Não sou um radical, sei que não dá para ficar sem investimento do governo em metro por exemplo... mas tenho minhas dúvidas se o nosso modelo de saúde e educação não seriam muito melhores se estivessem entregues a iniciativa privada... Algumas experiências nesse sentido seriam bem-vindas, não na pós-graduação (pro-une da vida), mas na pré-escola... não para hospitais de última linha, mas para postos de saúde preventivos de massa no interior do país... é apenas um ou outro teste que eu gostaria de ver... mas há medo de fazê-los e uma pressão sindicalista contrária a qualquer ação nesse sentido...









24 agosto 2010

Dilma se define como de esquerda. Serra se diz de esquerda. Temos nessa eleição diversos partidos, sendo que as palavras que mais aparecem em suas siglas são Social, Socialista, Comunista, Democrata, do trabalho e do trabalhador..

Agora, se você como eu, acredita em estado mínimo, e quer menos impostos, mais eficiência e portanto mais coisas na mão da iniciativa privada e menos na mão da iniciativa pública... vota em quem? Cade a direita? No Brasil, devido ao regime militar (que não acreditava nos princípios do estado mínimo e portanto também era de esquerda, só não era comunista) ninguém diz que é direita. Um saco!